VENCEDOR
Nuno Andrade
PicNic
A 1.ª edição do Prémio NARRATIVA - FUJIFILM recebeu 151 candidaturas de autores residentes em Portugal. Esta nova distinção, dedicada à fotografia contemporânea, visa valorizar projetos inéditos de autores em fase inicial ou consolidada, com idade igual ou superior a 18 anos.
O júri, composto por Emma Hardy, Augusto Brázio e Mário Cruz, decidiu, por unanimidade, atribuir o prémio a Nuno Andrade, pelo trabalho PicNic, e atribuiu menções honrosas a José Pedro Sousa (Olá mais tarde) e Katya Bogachevskaia (Pele do Mundo). Os trabalhos distinguidos destacam diferentes perspectivas, abrangendo ensaio social, fotografia documental e exploração autoral.
O vencedor, Nuno Andrade, recebe um prémio no valor de 3.500€ e terá uma exposição individual na NARRATIVA, em Lisboa, com inauguração prevista para Janeiro de 2026. José Pedro Sousa e Katya Bogachevskaia apresentarão os seus trabalhos numa sessão aberta ao público na NARRATIVA.
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O júri distinguiu o projecto PicNic, da autoria de Nuno Andrade, pela sua notável capacidade em transformar um território periférico e aparentemente marginal num espaço de revelação e pertença. Na Ponta dos Corvos, entre o estuário e a cidade, o autor encontra um ponto de confluência simbólica onde se espelham gestos de liberdade, convivência e celebração colectiva.
Sem recorrer a artifícios, Nuno Andrade constrói um ensaio visual que privilegia a autenticidade e o gesto espontâneo. Através de uma fotografia depurada e atenta, dá visibilidade a comunidades que, frequentemente, são retratadas sob o signo da carência, exclusão ou marginalização. Aqui, porém, essas mesmas comunidades surgem em plano aberto, em diálogo com o horizonte de Lisboa — cidade distante e próxima, reflexo e contraponto.
O território eleito, a Ponta dos Corvos, conhecida também como Praia dos Tesos, é mais do que um cenário; é um lugar de comunhão e de resistência quotidiana. A sua geografia — uma língua de terra que se estende sobre o Tejo — funciona como metáfora de um limiar: entre o centro e a margem, entre o visível e o invisível, entre a cidade e o rio. É neste interstício que o fotógrafo encontra o seu motivo, registando a vibração de um espaço onde o convívio se transforma em expressão de liberdade e de pertença.
PicNic revela uma abordagem de rara subtileza, em que o olhar documental se cruza com a dimensão simbólica da fotografia. O trabalho de Nuno Andrade afirma-se como uma reflexão sobre a possibilidade de comunidade e sobre a construção de uma cultura partilhada, nas margens de uma Lisboa em permanente transformação, impondo-se como um projecto singular capaz de transformar um território aparentemente periférico num espaço de narrativa viva e contemporânea.
MENÇÕES HONROSAS
José Pedro Sousa
Olá mais tarde
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Em “Olá mais tarde”, José Pedro Sousa revela um olhar que é, ao mesmo tempo, múltiplo e singular. Cada fotografia funciona como uma janela — única na coesão da sua visão, múltipla na diversidade de territórios, rostos e notas que nos apresenta. O júri reconheceu neste trabalho a capacidade de nos transportar para um espaço temporal que parece distante, mas que pulsa com uma surpreendente contemporaneidade, permitindo-nos projectar para o presente as memórias de outros tempos.
As imagens não se limitam a registar o mundo; elas reorganizam-no perante o observador. Entre desertos e cidades, retratos e quotidiano, José Pedro Sousa apresenta fragmentos de experiências que se entrelaçam numa narrativa aberta, onde passado e presente se cruzam. É nesta tensão subtil que o trabalho ganha força: o mundo documentado torna-se simultaneamente conhecido e inédito.
Katya Bogachevskaia
Pele do Mundo
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Em “Pele do Mundo”, Katya Bogachevskaia constrói uma narrativa visual sensível, onde o humano e o planeta se entrelaçam de forma inseparável. O júri destacou a capacidade da autora de fundir o microcosmo familiar com o macrocosmo natural, estabelecendo paralelos subtis entre corpos, territórios e processos globais. Cada imagem revela vulnerabilidade e presença, convidando à reflexão sobre aquilo que julgamos seguro e a instabilidade que permeia o mundo contemporâneo.
Katya Bogachevskaia cria, ainda, um universo quase sobrenatural, aspecto particularmente interessante tendo em conta o ponto de partida do projecto — a reflexão sobre a interdependência entre a pele da família e a pele do planeta. Os corpos e as paisagens tornam-se superfícies de memória, marcas e riscos; a tensão poética entre o íntimo e o global confere às imagens uma força que permanece muito depois de as observarmos, lembrando-nos da fragilidade e da responsabilidade partilhada que atravessam o nosso tempo e espaço.
A NARRATIVA e a Fujifilm Portugal agradecem a todos os participantes que se juntaram à primeira edição do Prémio de Fotografia NARRATIVA – FUJIFILM. Esta iniciativa nasce com o propósito de reconhecer e valorizar a expressão fotográfica existente em território português, dando visibilidade a projectos que contam histórias através da imagem e refletem a diversidade cultural e artística do país. As candidaturas submetidas são um excelente sinal da vitalidade da fotografia em Portugal e do compromisso dos autores com a sua prática.














